As relações entre as entidades que representam os médicos e o Ministério da Saúde, na figura do ministro Ricardo Barros, seguem gravemente estremecidas. Estão marcadas para este dia 03 de agosto manifestações e mobilizações da classe médica em várias cidades do país, num movimento que busca fazer ecoar a necessidade de valorização profissional.
Em meados de julho, em São Paulo, o ministro voltou a fazer ataques gratuitos ao falar da adoção de sistemas de ponto eletrônico nas unidades de saúde. "... Vamos parar de fingir que pagamos médicos e os médicos vão parar de fingir que trabalham", disse.
Com toda a razão, a declaração gerou uma revolta nacional entre os médicos. O Sistema Único de Saúde (SUS) segue sendo sucateado, o financiamento público cada vez mais insuficiente e, para fugir à responsabilidade sobre os resultados de uma gestão equivocada, Barros segue a tradicional receita de atribuir a culpa do caos aos médicos.
O ministro da Saúde, ao depreciar os profissionais que fazem o possível e o impossível para seguir atendendo a população sem as condições mínimas de trabalho - ressalte-se aqui a redução sistêmica do número de leitos; a rede de atendimento com estrutura completamente sucateada; a falta de materiais e medicamentes básicos -, alardeia o falso conceito de que os médicos e demais profissionais de saúde são os responsáveis por esta situação, esquecendo a regra constitucional que estabelece o direito à saúde como dever do Estado.
Em nota oficial de repúdio às declarações de Barros, a Federação Nacional dos Médicos (FENAM), reiterou que:
“O ministro de Estado da Saúde, servidor público número 1 do sistema, deveria ao invés de encontrar os responsáveis por sua incapacidade gerencial, corrigir as graves falhas exercendo a sua obrigação constitucional. Como administrador público deveria não só cumprir as regras existentes, assim como também respeitá-las.
Se valer do seu cargo para atingir uma categoria profissional, que junto com os demais profissionais faz um grande esforço para manter este sistema funcionando, é um grave erro que pode ser caracterizado como, além da ofensa pessoal, também improbidade administrativa.
A civilidade e a urbanidade são princípios e regras da administração pública, que dentre outras, devem ser obrigatoriamente praticadas, caso contrário estaríamos incentivando e expondo estes profissionais a um contexto de violência em que a impunidade seria a regra predominante.
Fingir que trabalha talvez seja a expressão escolhida por um gestor à beira de uma crise de nervos por demonstrar incapacidade em responder aos desafios, transferindo para outros o que talvez melhor se aplique à sua pessoa.”
Filiado à FENAM, o Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná apoia a mobilização proposta em nível nacional. Neste momento, mais do que nunca, os médicos precisam seguir unidos.
Alberto Toshio Oba
Presidente do Sindicato dos Médicos do Norte do Paraná (Sindmed)
voltar